Em janeiro de
2010 embarquei numa viagem planejada, com aproximadamente três meses de
antecedência. O destino: Chapada Diamantina, no interior do Estado baiano.
Nesta viagem
tive a ilustre companhia de duas colegas de estágio: Eloá e Géssica.
O
nosso plano seria fazer somente um circuito básico de quatro dias pela Chapada
Diamantina e de lá irmos todos juntos para Salvador, daí nos separaríamos: eu
iria para a Costa dos Coqueiros, no litoral norte da Bahia, a Eloá ficaria em
Salvador, na casa de familiares e a Géssica viajaria para Maceió, também para
casa de familiares.
A
condição que estabeleci para eu ir nesta viagem é que teria que ser via
rodoviária. Em contrapartida, depois que saíssemos da Chapada Diamantina e
chegássemos a Salvador, nos separaríamos – então cada um poderia voltar da
forma que bem entendesse. Compramos nossas passagens pela viação Emtram na
Rodoviária do Tietê, em São
Paulo , com destino a Seabra, na Bahia, porém desceríamos em
Lençóis – o mais badalado município da Chapada Diamantina.
A
Chapada Diamantina, também conhecida como serra do Sincorá, é uma região de
serras, situada no centro do Estado da Bahia, onde nascem quase todos os rios
das bacias do Paraguaçu, do Jacuípe e do Rio de Contas. Essas correntes de
águas brotam nos cumes e deslizam pelo relevo em belos regatos, despencam em
borbulhantes cachoeiras e formam transparentes piscinas naturais. A vegetação é
exuberante, composta de espécies da caatinga semi-árida e da flora serrana, com
destaque para as bromélias, orquídeas e sempre-vivas. As rochas fazem parte da
unidade geológica conhecida como Supergrupo Espinhaço, que tomou este nome por
ocorrer na serra do Espinhaço, no estado de Minas Gerais.
A Chapada Diamantina nem sempre foi uma
imponente cadeia de serras. Há cerca de um bilhão e setecentos milhões de anos,
iniciou-se a formação da bacia sedimentar do Espinhaço, a partir de uma série
de extensas depressões que foram preenchidas com materiais expelidos de
vulcões, areias sopradas pelo vento e cascalhos caídos de suas bordas. Sobre
essas depressões depositaram-se sedimentos em uma região em forma de bacia, sob
a influencia de rios, ventos e mares. Posteriormente, aconteceu um fenômeno
chamado soerguimento, que elevou as camadas de sedimentos acima do nível do
mar, pressionada pela força epirogenética, tendo aos pouco um sofrível
erguimento ao longo de milhões de anos. As inúmeras camadas de arenitos,
conglomerados, e calcários, representam os depósitos sedimentares primitivos; a
paisagem atual é o produto das atividades daqueles agentes ao longo do tempo
geológico. Nas ruas e calçadas das cidades da Chapada, lajes de superfícies
onduladas revelam a ação dos ventos e das águas que passavam sobre areais
antigos.
No dia e hora
marcada iniciamos a nossa viagem. De antemão já sabíamos que ficaríamos por 32
horas dentro do ônibus até chegarmos a nosso destino. Com mais de uma hora de
atraso, saímos da rodoviária às 11 horas da manhã e chegamos a Lençóis no outro
dia, por volta das 17 horas. Durante a viagem revezávamos os lugares para não
ficarmos a viagem toda sem conversarmos entre nós, mas conforme a viagem
evoluía fazíamos mais amizades dentro do ônibus. Durante a ida houve as paradas
para refeições, banho e troca de motorista por quatro vezes – cada um mais
hilário que o outro. No início ficamos receosos da viagem rodoviária ficar
muito tediosa, mas foi bastante animada, com muito respeito entre os
passageiros e a piada rolava solta...
Assim
que chegamos à primeira cidade baiana, todos no ônibus já se conheciam e
motorista fez uma pausa num boteco, a pedido dos passageiros, pois fazia um
calor infernal e a cachaça também rolava solta... kkkkk.
A
paisagem, na maior parte da viagem, é bastante agradável ao olhar. Pastos,
plantações, campos verdejantes, matagais, morros, serras, vilas isoladas e
cidades compunham o visual da viagem. Ora chovia, fazia sol, esfriava,
esquentava intensamente, ficava de tarde, de noite, de manhã e finalmente de
tarde novamente, quando chegávamos ao nosso destino. Passamos próximo a
Ibicoara, mas o ônibus fez uma última parada, antes de descermos, em Cascavel,
com suas estradas de terra vermelha e esburacada. Passamos por Mucugê, onde
teríamos que voltar, dias depois. Entramos em Andaraí, onde também visitaríamos
com mais calma e, finalmente, chegamos a Lençóis.
(clique na imagem para ampliar)
A
cidade de Lençóis é famosa por ser o principal destino turístico da região e
conta com uma ótima infraestrutura para absorver a demanda do turismo. Ela
surgiu em meados do século XIX com a descoberta de muitas jazidas de diamantes
na região da cidade de Mucugê. A tradição oral dá conta de que um personagem
chamado Casusa Prado e o seu escravo teriam vindo de Mucugê para descobrirem
diamantes. O nome Lençóis teria vindo dos lageados por onde o rio passa espumando,
serra abaixo. Diz-se que se parece um lençol bordado ou rendado.
Na minúscula
rodoviária de Lençóis, um carro esperava por nós, para nos levar até a pousada.
No planejamento da viagem optamos por ficar na Pousada Roncador e fazermos
nosso roteiro pela agencia da própria pousada, a Cirtur – que achamos a mais
econômica de todas pesquisadas.
Fizemos
o check-in e fomos desfazer as malas, tomar banho e sair para jantar e conhecer
a região. A cidade é bastante aconchegante com diversas opções de restaurantes,
bares, adegas, quiosques de comidas típicas, agências de turismo de aventura e
ecoturismo – abertas inclusive à noite, artesanato, danças folclóricas e
marchinhas de rua, que desfilavam por toda a cidade. Bem na entrada da cidade
há uma grande praça ladeando um rio, onde, à noite muitos se encontram para
conversar, brincar e namorar. O clima é bem animado e receptivo.
Retornamos
para a pousada, pois precisávamos descansar para no dia seguinte começarmos a
desbravar a Chapada Diamantina. Zzzzzz...
(clique na imagem para ampliar)
1º Dia – Objetivo: Conhecer o Rio Mucugezinho, Poço do Diabo, Morro do Pai
Inácio, Gruta e Rio Pratinha, Gruta Azul e Gruta da Lapa Doce.
Levantamos logo cedo, tomamos um
excelente café da manhã e nos encontramos com o guia na recepção da pousada, que
nos levaria de carro a todos os atrativos do dia e partimos para o Rio
Mucugezinho e Poço do Diabo. Saímos de Lençóis e entramos na rodovia rumo ao
município de Palmeiras e em poucos minutos paramos em um estacionamento a beira
da estrada, onde conheceríamos o Rio Mucugezinho.
Esse rio, assim como a maioria dos
cursos de água da região da Chapada Diamantina, tem uma coloração marrom
acobreada. Essa cor é derivada da matéria orgânica em decomposição. O
solo da Chapada é rochoso e a matéria orgânica se deposita sobre ele. Quando a
água passa por essa camada ela adquire essa cor, advinda dos taninos e ácidos
húmicos presentes nesse material. Tiramos algumas fotos e seguimos para o Poço
do Diabo.
(clique na imagem para ampliar)
Rente ao rio Mucugezinho pegamos uma
pequena trilha, que dá acesso a esse poço.
O Poço do Diabo, não é nada mais que
a continuação do Rio Mucugezinho, começando com uma cachoeira de 20 metros e terminando
num lago profundo. Suas águas limpas e refrescantes garantiram nosso
divertimento diante do calor do Estado baiano. Tem esse nome devido a um triste
fato na história da Bahia. Conta-se que, no tempo da mineração de diamantes,
eram os escravos que ficavam o dia inteiro dentro dos rios na coleta de pedras
preciosas. Eles ganhavam apenas roupas, comida e medicamento para que pudessem
incessantemente continuar com os seus trabalhos de mineração sem folga. Eles
eram vigiados por capangas armados. Certo dia os escravos resolveram mudar a
situação. Decidiram ficar com um pouco dos diamantes coletados no rio
escondendo-os em um lugar seguro. A idéia era juntar o suficiente para comprar
sua liberdade ou negociar se conseguissem fugir. Mas os capangas perceberam o
esquema dos escravos e delataram para o chefe, que por sua vez, mandou matar
todos os escravos e seus corpos foram jogados naquele poço, deixados para
apodrecerem. A partir dessa história surgiram várias lendas relacionadas a
aparições de fantasmas dos escravos mortos nesse local.
Nesse poço existem guias preparados
para fazer a descida dos visitantes pela trilha, por rapel ou por tirolesa.
Optamos descer pela tirolesa. A Géssica desceu primeiro, depois a Eloá e eu por
último. Entramos na cachoeira, demos alguns mergulhos, apreciamos alguns
artesanatos numa casa que dá acesso ao Rio Mucugezinho e voltamos para o carro
para irmos para o próximo atrativo.
Poucos minutos depois, avistávamos o
Morro do Pai Inácio, situado no município de Palmeiras. É possível chegar de
carro boa parte do morro, depois de passar por uma cancela continua a subida
por uma trilha. A vista lá de cima é espetacular – não é em vão que é o cartão
postal da Chapada Diamantina. Diz a lenda que um escravo chamado Pai Inácio,
fugindo da polícia, pulou de guarda-chuva do alto dos 400 metros de altura do
morro e não morreu. Há uma vertente que diz que ele havia saído com a mulher de
um chefe e que saltou lá de cima fugindo do homem traído. Há também uma
história de que ele fugia da mulher de seu patrão por ter saído com ele...
Agora resta saber qual história é a verídica.
Após deslumbrar o visual do mirante
e assistir a uma encenação feita pelos guias do Morro do Pai Inácio sobre a
história do fujão que saltou de guarda chuva, voltamos pela mesma trilha da
subida e seguimos pela rodovia rumo a Iraquara para conhecer as grutas, mas
antes paramos à beira da estrada para fotografar o Morro do Camelo – elevação
com altura um pouco mais baixa em relação ao do Pai Inácio e com aparência de
um camelo. Voltamos para o carro e seguimos por uma longa estrada para as
próximas emoções.
(clique na imagem para ampliar)
Depois de quase uma hora de estrada
chegamos ao município de Iraquara e nos dirigimos para a Gruta Pratinha,
localizada dentro da Fazenda Pratinha, a gruta é inundada por águas azuis
transparentes do Rio Pratinha, onde é possível praticar flutuação e mergulho.
Alugamos o equipamento necessário (colete, máscara, snorkel e lanterna) e
seguimos o guia que nos direcionavam dentro da gruta em um bote inflável. É
possível observar, com a ajuda da lanterna, as formações rochosas ricas em
calcário e magnésio e os peixes na parte escura da gruta. Adentramos vários
metros nessa gruta, nos acostumando a respirar pelo snorkel, onde também
pudemos fotografar e filmar embaixo da água. Depois de um longo tempo de
exploração subaquática, voltamos para a parte clara, na saída da gruta onde
pudemos observar melhor os peixes nadando em nossa volta. A experiência foi
surreal!
(clique na imagem para ampliar)
Após a flutuação, almoçamos no
restaurante Pratinha, dentro da mesma fazenda e visitamos a Gruta Azul, dentro
da mesma propriedade, que dentro dessa caverna contém um lago translúcido,
cujas águas atingidas pelos raios solares ganham tons azulados, permitindo
também, através da refração do feixe solar, visualizar o fundo da caverna. O
acesso para a Gruta Azul é através de uma íngreme descida. Nessa gruta não é
permitida a pratica de mergulho e flutuação.
(clique na imagem para ampliar)
Saímos de carro da Fazenda Pratinha e
andamos por 6 km
até chegarmos a Gruta da Lapa Doce. Após pagarmos a taxa de entrada, seguimos o
guia da propriedade, juntamente com outro grupo pequeno, e pegamos uma trilha
até chegarmos a uma grande dolina. Descemos pela trilha, entre as erosões de
calcário, e chegamos a enorme entrada da caverna, com 72 metros de altura.
A Lapa Doce faz parte de uma extensa
rede de cavernas gigantes com formações inusitadas de estalactites,
estalagmites, colunas e espeleotemas de fascinante beleza. Considerada a
terceira maior caverna do Brasil, ela possui 22 km mapeados, sendo somente
850 metros
abertos à visitação, entrando por um lado e saindo por outro. Um dos
espeleotemas tem um belo efeito de tons avermelhados em contraste com o branco
da calcita, provocado pelo desmatamento na superfície – o que permite a entrada
de água com argila.
Durante a visita o guia, com sua
lâmpada de carbureto, contava algumas histórias do lugar e parava em
determinadas formações geológicas para ou contar uma história ou fazer uma
abordagem mais técnica. Em um trecho, a pedido do guia, desligamos nossas
lanternas e ele próprio desligou sua lâmpada, para podermos “ver” a escuridão
total e ouvir os sons da caverna. Depois da experiência, saímos do outro lado
da caverna e subimos uma trilha entre as depressões de calcário até chegarmos à
entrada da propriedade.
Com a noite já a espreita, pegamos a
rodovia de volta para Lençóis enquanto observávamos o Sol se pôr. Na rodovia
não existe iluminação pública e ficamos por conta das luzes do nosso carro, de
outros veículos que cruzavam conosco, dos vaga-lumes, de outros seres
desconhecidos, da lua e das estrelas...
Chegamos a Lençóis cansados, porém,
felizes por termos alcançado o objetivo do dia e fomos para o merecido
descanso, pois no dia seguinte uma grande caminhada esperava por nós.
(clique na imagem para ampliar)
2º Dia – Objetivo: Conhecer a trilha do Vale do Capão, Cachoeira da Fumaça e
Riachinho.
Acordamos ansiosos pela programação
do dia, fizemos o desjejum e nos encontramos com outro guia na recepção da
pousada – o Márcio, meu chará. Dessa vez iríamos conhecer os atrativos de van,
juntamente com outras três meninas de São Paulo.
Fechado o grupo, partimos para o
município de Palmeiras, onde caminharíamos por Caeté-Açu, mais conhecida como
Vale do Capão e logo pudemos deslumbrar a paisagem natural. Depois de mais de
uma hora de van, chegamos ao pé da Trilha do Capão, em um pequeno vilarejo. Tivemos
uma explicação da brigada voluntária de combate a incêndios da região, sobre a
queimada periódica na região, causando gravíssimo impacto ambiental e que conta
com poucos equipamentos de combate ao fogo, podendo-se também deixar uma doação
para a brigada. Após as orientações começamos a trilha de 6 km até a Cachoeira da Fumaça.
A trilha é bem puxada no começo, com
mais de 1 hora de subida pela serra da Larguinha, por uma escada natural de
pedras, onde tivemos que fazer algumas paradas para descanso e fotografar o
vale, que se apresentava atrás de nós e pudemos avistar o Morrão (ou Monte
Tabor) em toda parte da subida. O clima estava seco e quente, fazendo-nos
sentir como é caminhar em climas semi-áridos do sertão. No fim da subida
caminhamos por mais de uma hora em terreno irregular, porém sem inclinação até
chegarmos à boca da cachoeira.
(clique na imagem para ampliar)
Ponto 1: Início
da trilha no pé da torre de telecomunicação, uma placa do Ibama dá algumas
informações sobre a trilha e o parque. Atravessam-se vários quintais e logo
começa um campo aberto de 300
metros que vai dar no início da subida da serra da
Larguinha.
Ponto 2: Subida
dividida em três patamares bastante íngremes com um desnível total de 330 metros , esta é a
parte mais árdua da trilha. Os trechos mais íngremes foram calçados para
permitir a subida de animais até os campos e seus pastos naturais. Belo visual
sobre o Morrão e a planície da Campina. Observem os primeiros pés de candombá,
uma planta de caule grosso e fibroso usada tradicionalmente para acender o
fogão a lenha, indicando uma altitude superior a 1200 metros . Presença
de cristais de quartzo no chão. Esta trilha foi originalmente traçada pelos
garimpeiros que alcançavam por aí os rios Palmital e Capivara.
Ponto 3:
Alcança-se o nível dos gerais num primeiro muro de pedras seguido por um trecho
arenoso com belo visual sobre o vale do Capão e a serra do Rio Preto. Em
seguida a trilha orienta-se para o leste onde encontra o curral.
Ponto 4: O curral
é rodeado de um campo rupestre extremamente rico e frágil, tendo que ter cuidado
com as pisadas e não colher plantas. Várias espécies de bromélias, cactos e orquídeas
caracterizam um campo de grande diversidade biológica. Arvoredos de folhas
graúdas (pau de mocó) e a Samambaiaçu completam o visual do ambiente.
Ponto 5, 6 e 7:
Platô a perder de vista. Os "Gerais" se estendem por três
quilômetros, com zonas de brejo e travessia de vários córregos, afluentes do
rio da Fumaça. É possível observar umas pequenas plantas vermelhas e peludinhas
que fabricam visgo quando mexidas, elas são carnívoras (Drosera).
Ponto 8: Chegando ao rio de bela cor
vermelha, dá para sentir as gotinhas da cachoeira que voltam para cima,
trazidas pelo vento; fenômeno que deu origem ao nome "Fumaça".
(clique na imagem para ampliar)
Atravessamos
o rio e chegamos finalmente na Cachoeira da Fumaça, na parte de cima. Recebeu
esse nome porque pela altura da queda, a água evapora-se, formando um panorama
visual como se fosse fumaça. Com 340 metros de altura, é a segunda maior cachoeira
do Brasil, atrás somente da Cachoeira do El Dorado, no Amazonas, com 353 metros de altura. O
abismo é de 420 metros ,
porém, de onde começa a cachoeira até o fundo do cânion dá 340 metros de altura. A
floresta do fundo do cânion é remanescente de Mata Atlântica, com numerosos
palmitos.
Ficamos
um longo tempo contemplando o grande cânion e aproveitamos o momento também
para fazermos um grande piquenique. A cachoeira se resumia a um filete de água,
por causa da seca sazonal. O calor era grande, mas, pudemos nos refrescar
sempre, por causa do vapor da água da cachoeira que voltava do cânion. Ainda
teríamos um grande caminho para percorrer, até a entrada da trilha e o calor
nos castigava cada vez mais, porém menos penoso para caminhar, pois teríamos
alguns trechos de retas e a descida do morro da Larguinha. O que nos motivava
era a próxima cachoeira que visitaríamos. Chegamos novamente na entrada da
trilha no meio da tarde e seguimos para o Riachinho – uma cachoeira a quatro
quilômetros do Vale do Capão.
3º Dia – Objetivo: Conhecer o Poço Azul, Mucugê, Cemitério Bizantino, Ruínas
de Igatú, Galeria Arte & Memória e Toca do Morcego.
Devidamente recuperado, levantamos
bem mais cedo, em comparação com os outros dias, pois nesse dia iríamos
conhecer alguns dos atrativos situados do outro lado da Chapada Diamantina, em
relação a onde estávamos. Os destinos: Nova Redenção, Mucugê, Igatú e Andaraí.
Nosso guia foi novamente meu chará, o Márcio – gente fina!
Percorremos 86 km de Lençóis até o Poço
Azul. Inicialmente o plano seria também visitar o Poço Encantado, mas estava
lacrado pelo Ibama, devido a uma obra irregular na entrada do poço, segundo os
guias locais.
O Poço Azul fica dentro de uma propriedade
particular, onde se paga uma taxa para entrar e o acesso é feito descendo
através de várias escadarias de madeira. A caverna tem formações rochosas de
estalactites e estalagmites e, ao fundo possui um belíssimo poço de águas
cristalinas, alimentados por lençol freático. Por ser água corrente, é
permitido o banho e flutuação, pois a oleosidade do corpo dos banhistas não
suja a água. O tom azulado turquesa da água se deve basicamente pela mesma
razão que o céu é azul. A luz visível que vem do sol é composta por todas as
cores e, ao encontrar com a atmosfera, ela passa direto, enquanto a luz azul
bate nas moléculas de nitrogênio e oxigênio e é refletida em todas as direções.
Uma das coisas impressionantes é que mesmo com a profundidade, é possível ver
nitidamente tudo o que está no fundo, como pedras e troncos de árvores em áreas
que variam de 3 a
15 metros
de profundidade. Segundo Ismael Júnior, o guia do poço, a limpidez se deve a
existência de carbonato de cálcio na água, fazendo uma função de filtro,
contribuindo para a sua transparência. No Poço Azul encontram-se esqueletos
completos de preguiças gigantes, datados em 10 milhões de anos. Pequenos
camarões e o raro bagre-albino habitam esse poço, apesar do cenário assombroso.
A primeira vista ainda é possível confundir onde termina a rocha e onde começa
o meio aquático.
Alugamos os equipamentos necessários
para a prática de flutuação, tivemos também que tomar uma ducha geladaaaaaaaaaa
para diminuir as impurezas do corpo e entramos vagarosamente na água para não
levantar resíduos do fundo do poço nas regiões rasas. Ficamos por
aproximadamente 40 minutos explorando cada parte do poço com a ajuda de nossas
máscaras. Foi uma experiência bem divertida para mim. Eu sentia estar voando,
podendo nadar e enxergando nitidamente o fundo a 15 metros de
profundidade. Tive vontade de passar o dia todo lá dentro, se fosse possível,
mas o tempo é regulado dentro do poço e ainda tinha muitos lugares a conhecer
nesse dia.
(clique na imagem para ampliar)
A próxima parada foi em Mucugê,
depois de aproximadamente uma hora de carro. Eu, Eloá, Géssica e o guia Márcio.
A cidade de Mucugê é uma das mais
antigas da região da Chapada Diamantina, fundada no século XVIII. Tem como
característica marcante, os antigos casarões coloniais. A economia da época
girava em torno da mineração de ouro e, sobretudo, diamantes.
A primeira coisa que fizemos ao
chegar foi escolher um restaurante, pois estávamos famintos, devido ao tempo
ocioso dentro do carro e a atividade aquática no Poço Azul. Depois que
almoçamos, andamos pelas ruas e praças de Mucugê com suas particularidades ora
interessantes, ora engraçadas. Em uma praça um “transporte para bêbados” estilo
caixão aberto com as frases: “Queria ser como você não ter razão pra beber”,
“Bêbado aqui é cuidado cada um é dono do seu e é respeitado” e “Feliz é quem
dorme dismaio”.
Seguimos para o Cemitério Bizantino,
com seus túmulos e mausoléus de formas góticas e pontiagudas. Há duas
explicações para a denominação de bizantino. Uma é pela semelhança com as
cúpulas brancas do Mar Egeu, feitas pela civilização bizantina. Outra é pela
presença de sírios e libaneses em Mucugê, no século XIX. Esses eram chamados de
turcos, pois a Síria e o Líbano pertenciam ao Império Turco Otomano e a Turquia
foi a sede do Império Bizantino. Não se sabe qual explicação é a real. Ficamos
pouco tempo no cemitério e voltamos para a rodovia.
Nossa próxima parada foi em Igatú –
distrito famoso pelas ruas, casas e ruínas de pedra onde viveram os garimpeiros
no século XIX. Foi um próspero povoado no alto da serra, mas com o declínio da
produção de diamantes, a cidade praticamente foi abandonada, restando casas
fechadas, ruínas e poucos moradores. A maioria dos garimpeiros construíam suas
casas utilizando as pedras abundantes no local, numa espécie de construção sem
argamassa. Essa vila foi cenário do filme brasileiro “Besouro”.
O acesso a Igatú, no alto da serra é
feita por uma longa estrada de terra e assim que chegamos à vila, os moradores
ficavam nos observando como seres vindos de outro planeta. Quem chega ao
povoado encanta-se também com o artesanato e os doces vendidos em cada esquina.
(clique na imagem para ampliar)
Andamos entre as ruínas de Igatú até
que chegamos a Galeria Arte & Memória – um mix de museu e lojinha, com
ênfase nas obras do artista plástico Dmitri de Igatú, que pinta as belezas
naturais da Chapada Diamantina. O espaço reúne também utensílios usados no
garimpo entre as décadas de 1930 e 1950. Nos jardins têm várias esculturas de
arte contemporânea.
Depois que saímos da Galeria,
passamos pela Rampa do Caim – uma estrada de pedras de aproximadamente 10
quilômetros, onde é possível ter uma impressionante vista do Rio Paraguaçú.
Seguimos para a Toca do Morcego, que
é parada obrigatória para quem gosta de artesanato. Lá você encontra roupas,
bolsas, brincos, anéis, pedras e uma grande variedade de acessórios. Pegamos
uma trilha bem curta e saímos no Rio Paraguaçú, onde pudemos nadar em algumas
piscinas naturais rentes ao rio.
Depois seguimos para o centro de
Andaraí para comer sorvete. Fomos à sorveteria Apollo e provamos o famoso
sorvete de cachaça da região. Antes de escurecer, já voltávamos para a pousada
em Lençóis.
(clique na imagem para ampliar)
Nesse dia levantamos um pouco mais
tarde, pois ficaríamos conhecendo outros atrativos de Lençóis e fizemos os
roteiros sem guia.
O plano seria chegar à Cachoeira do
Sossego, porém a trilha bifurcava muito e para não corrermos riscos
desnecessários, partimos para o Ribeirão do Meio, tendo apenas que pegar uma
trilha bem aberta, andando por uns 40 minutos.
O Ribeirão do Meio é composto por
uma corredeira sobre lajes de arenitos e conglomerados lisos e escorregadios
que formam um verdadeiro tobogã natural, que deságua numa grande piscina
natural. Ao chegar, nadei até a parte oposta da piscina natural e subi pelas laterais
da laje e desci devagar pelo tobogã para testar se não me machucaria se fosse
numa velocidade maior. Aprovada a descida, repeti dezenas de vezes!!!
(clique na imagem para ampliar)
Voltamos do Ribeirão do Meio para o
centro de Lençóis, almoçamos e fomos para a pousada tirar uma soneca. Depois
levantamos para andar mais um pouco. A Géssica estava com dor de cabeça,
portanto, somente eu e a Eloá continuamos com as andanças, enquanto a Géssica continuou
na pousada descansando.
Passamos pelo Parque Municipal do
Serrano, a 15 minutos do centro de Lençóis, para conhecermos os caldeirões
(piscinas naturais). Ficamos um pouco nos caldeirões, sendo possível ter uma
visão panorâmica de Lençóis e seguimos para o Salão de Areias Coloridas,
formado por pedras porosas, que formam túneis e cavernas com pedras de arenitos
em decomposição, com diferentes tonalidades de cores. Após algumas fotografias
pegamos uma trilha e saímos na Cachoeirinha – um lindo poço formado por um rio
que corre mansamente, com uma pequena queda d’água, o que nos proporcionou um
delicioso banho.
No fim da tarde, nos reunimos
novamente com a Géssica e fomos aproveitar a nossa última noite na Chapada
Diamantina, pois no dia seguinte, logo cedo iríamos partir para Salvador.
(clique na imagem para ampliar)
Levantamos cedo e com pesar deixamos
para trás um dos destinos mais interessantes do Brasil. Ficaram atrativos que
não podemos visitar, como o Vale do Paty, Cachoeira da Fumacinha, Cachoeira do
Boqueirão, Gruta Torrinha e Poço Encantado, mas que voltarei com certeza para
conhecê-los.
Até a próxima!!!
* créditos das imagens para Eloá e Márcio.
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